sábado, 25 de junho de 2011

EUA, Europa e países da Ásia liberam 60 milhões de barris de reservas e derrubam preço do petróleo


A Agência Internacional de Energia (AIE), formada por 28 países, anunciou nesta quinta-feira a liberação de 60 milhões de barris de petróleo de reservas estratégicas, a terceira da história da entidade, o que fez os preços da commodity caírem até 6%. Segundo a nota oficial da AIE, o objetivo é compensar a interrupção da produção da Líbia, já que o consumo de combustíveis aumenta durante o verão no Hemisfério Norte, "o que ameaçaria a frágil recuperação da economia global". Nos Estados Unidos - que responderão pela metade do volume liberado -, houve críticas de motivação política, para segurar a inflação.
"A economia global ainda está saindo da recessão, e é essencial que essa recuperação não seja colocada em risco por uma queda no fornecimento de petróleo", disse o diretor-executivo da AIE, Nobuo Tanaka.

Em Nova York, a cotação do tipo leve americano encerrou ontem em queda de 4,6%, a US$ 91,02, segundo dados da Bloomberg News. O barril chegou a cair 6%, a US$ 89,69. Em Londres, o barril do tipo Brent despencou 6,1%, a US$ 107,26.
As ações de petrolíferas caíram, puxando os mercados. Londres recuou 1,7%, Frankfurt, 1,8%, e Paris, 2,2%. Em Nova York, o Dow Jones encerrou em queda de 0,5%, depois de recuar mais de 1%, devido ainda à alta nos pedidos de seguro-desemprego na semana passada. Já o Nasdaq avançou 0,6%. Os pedidos iniciais de auxílio-desemprego passaram de 420 mil para 429 mil, na semana passada, informou ontem o governo. Economistas esperavam 415 mil pedidos.
Coordenação só na guerra e após Katrina

Os membros da AIE, criada após o primeiro choque do petróleo (1973/74), já haviam feito duas ações coordenadas de liberação de estoques. A primeira foi em 1991, quando o Iraque invadiu o Kuwait. A segunda foi em 2005, depois que o furacão Katrina arrasou plataformas e refinarias no Golfo do México.
A AIE vai liberar 2 milhões de barris por dia - o equivalente a 2% da oferta global -, em sua maioria de petróleo bruto, inicialmente ao longo de 30 dias. Os EUA vão entrar com metade do volume, que virá de sua reserva gigantesca de 727 milhões de barris. A Europa irá colaborar com 30%, e o restante virá de Austrália, Japão, Coreia e Nova Zelândia.

Os barris devem começar a chegar no mercado na semana que vem. Após 30 dias, a AIE fará uma avaliação dos preços e do equilíbrio entre oferta e demanda. A agência não descarta liberar mais petróleo.
A Câmara de Comércio americana, um dos mais poderosos lobbies de Washington, criticou fortemente a decisão da AIE e o governo Barack Obama. "Nossas reservas visam a resolver verdadeiras emergências, não preços altos politicamente inconvenientes", afirmou em nota Karen Harbert, diretora-executiva do Instituto de Energia da câmara.

Outros grupos dos EUA engrossaram o coro das críticas. Em nota, o Instituto Americano do Petróleo, que representa cerca de 400 produtores, afirmou que a liberação das reservas "é uma ação reacionária baseada na política de energia fracassada do governo".
Já a Associação Nacional de Petroquímicas e Refinarias classificou a decisão como uma ação política que não trará qualquer benefício aos consumidores. "Em vez disso, deixará nossa nação vulnerável se furacões, outros desastres naturais ou uma crise externa provocarem uma verdadeira queda no fornecimento".
- Não estamos em uma situação em que fisicamente precisamos de mais barris - disse à Bloomberg News Blake Fernandez, analista da consultoria Howard Weil. - Isso parece mais um movimento dos governos americano e europeus para reduzir os preços do petróleo.

O uso das reservas deve trazer alívio especialmente para os países europeus, às voltas com a crise da dívida em Grécia, Portugal e Irlanda, explicou à Bloomberg Eliecer Palacios, especialista em energia da consultoria Maxim Group. Ele ressaltou que, mesmo que os preços caiam, os ganhos das petrolíferas continuarão elevados.

- Todos ficarão felizes se o barril cair a US$ 75 - disse Palacios. Exxon Mobil, Chevron e Royal Dutch Shell não quiseram comentar a decisão da AIE.

Os estoques dos países membros da AIE somam 4,1 bilhões de barris, sendo que cerca de 1,6 bilhão estão nas reservas estratégicas dos governos. Os membros da agência que são importadores líquidos (que importam mais que exportam) são obrigados a manter reservas estratégicas equivalentes a 90 dias de suas importações. Segundo dados da AIE, esses estoques hoje equivalem a 146 dias de importações.
Há três semanas, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) não conseguiu chegar a um acordo para elevar sua produção. A Líbia, membro da Opep, exportava cerca de 1,5 milhão de barris por dia antes da rebelião, iniciada em fevereiro, que paralisou a produção da indústria de petróleo. A AIE estima que a Líbia fique fora do mercado até o fim deste ano.

Alguns membros da Opep não gostaram da decisão. Um representante de um dos países do cartel disse à agência Dow Jones que não havia justificativa para essa ação e que a AIE estava agindo por conta própria - contrariando declarações do vice-diretor da agência, Richard Jones, de que a Opep havia sido consultada.
- Vai prejudicar os produtores de petróleo - disse à Dow Jones outro representante da Opep.

Uma fonte do cartel não descartou que a Opep faça reunião de emergência para reduzir a produção, se os preços do petróleo caírem muito.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Rio, SP e ES propõem novo fundo para royalties


Os estados com maior produção de petróleo - Rio e Espírito Santo, que ganharam a adesão de São Paulo - proporão que as demais unidades da Federação tenham acesso imediato às receitas geradas com as áreas já licitadas. A ideia é criar um fundo de desenvolvimento regional, no qual a União aportaria entre 30% e 50% dos recursos a ela destinados com royalties, participação especial e bônus de assinatura para financiar estados e prefeituras, sobretudo do Nordeste. Este ano, estima-se que a União receba R$ 10 bilhões.

A proposta, formatada em reunião anteontem no Rio, da qual participaram o governador em exercício Luiz Fernando Pezão, e os de São Paulo, Geraldo Alckmin, e Espírito Santo, Renato Casagrande, repassa a fatura ao Palácio do Planalto e será apresentada à presidente Dilma Rousseff até terça-feira. Na próxima semana, será agendada reunião dos estados produtores com os governadores do Nordeste, representados por Marcelo Déda (SE) e Eduardo Campos (PE).

Segundo Casagrande, que está coordenando o processo, o fundo teria uma duração de quatro ou cinco anos, prazo estimado para que os campos licitados já sob o regime de partilha, que vai substituir a concessão, comecem a gerar produção e receita. Ao contrário do que ocorre na concessão, na partilha ficou definido que os não produtores também serão remunerados. "A finalidade é cobrir este vácuo e atender quem deseja alguma arrecadação imediata", explicou Casagrande.

Os recursos seriam divididos com os estados não produtores, que teriam um quinhão das receitas correntes com petróleo, um dos alvos do texto aprovado no Congresso e vetado pelo ex-presidente Lula. A emenda rejeitada redividia a arrecadação de royalties entre as 27 unidades da Federação, incluindo as áreas já licitadas, sem compensação especial para Rio, Espírito Santo e São Paulo.

Segundo interlocutores, a proposta que está sendo costurada tem chances reais de vingar porque as partes sairiam ganhando. Além disso, a presidente está disposta e até determinou aos governadores do Nordeste que cheguem a um acordo para evitar que a União recorra ao Supremo Tribunal Federal. "A própria adesão de São Paulo (que vinha se mostrando alheio ao tema) reforça a necessidade de entendimento", destacou Casagrande.